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sexta-feira, 29 de agosto de 2008

nota sobre as "investigações sobre a natureza ondulatória da angústia" [3]

cf. tb o seguinte trecho de Lispector (Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres -grifos meus), em que a autora permite realizar um diálogo duplo com Heidegger (medo, dor e angústia) e Nietzsche (alegria e dor): "[Lóri] percebia em si a vontade intensa quase pungente de se lamentar, de acusar, sobretudo de reivindicar. Parecia-lha que já fora tão experimentada que agora lhe deveria chegar, dentro da lógica romântica dos humanos, a hora de receber a paz. Já nem ousava pensar em alegria, que ela não sabia propriamente como era, mas em paz. O que seria uma alegria? Ainda teria capacidade de reconhecê-la, se viesse? Ou já era tarde demais para que soubesse distingui-la. Pois ela adivinhava que a alegria viria talvez como um som simples quase aquém do nível de audição. [...]
Ela agora estava só para a dor que tivesse que vir. [...]
Sabia por enquanto que doía muito e que depois ainda doeria mais pois sofreria a falta d'Aquele que, mesmo se não existisse, ela amava porque era uma célula dele. E talvez viesse a se salvar: porque a angústia era a incapacidade de enfim sentir a dor. Pensou: nunca tive a minha dor. Por falta de grandeza, sofrera suportavelmente tudo o que nela havia a sofrer. Mas agora sozinha, amando um Deus que não existia mais, talvez tocasse enfim na dor que era dela. Angústia era também o medo de sentir enfim a dor."
Fica evidente que a alegria não pode ser caracterizada como contentamento, nem sequer é pacífica; por sua vez, a angústia não parece ser o que propicia a abertura ao mais próprio do ser, já que encobre (impede de tocar) a dor trágica de se existir ("se" em sentido reflexivo, jamais impessoal). Ora, que fenômeno é o mais característico da existência trágica? Não é exatamente o que Nietzsche chama de vontade alegre? Porém, ainda falta caracterizar, talvez dentro da discussão nietzschiana dos niilismos, como a angústia enquanto medo diz seu não (ou seja, em que consiste o não da angústia-medo) e como a angústia alegre faz soar seu não.

2 comentários:

MARCOS PAULO BLASQUES BUENO disse...

Se a alegria viesse como um som quase inaudível, teríamos, quem sabe, uma possível leitura positivista em nosso século!

Através de avançados equipamentos de análise sonográfica e spectral, podemos ao menos apreciar tais frequências que antes não podíamos ouvir. Podemos amplificá-las, transformá-las, modificar sua altura frequencial em oitavas! Assim, podemos apreciá-las um pouquinho.

Paralelamente, consideremos a posibilidade de encontrarmos meios semelhantes para o que seria uma "apreciação" dessa alegria quase impossível de ser sentida.

Dessa forma, seria possível reduzir as frequências da angústia, em prol de ciclos mais estáveis, menos trágicos! Quem sabe teríamos então momentos mais belos! Ainda que paradoxalmente "artificiais"... Apesar do fato de o ser humano possuir em seu íntimo, concomitantemente, artificialismos e autenticidades multiplas, inconstantes.

Um grande abraço musical,

Marcos Paulo Blasques Bueno disse...

Se a alegria viesse como um som quase inaudível, teríamos, quem sabe, uma possível leitura positivista em nosso século!

Através de avançados equipamentos de análise sonográfica e spectral, podemos ao menos apreciar tais frequências que antes não podíamos ouvir. Podemos amplificá-las, transformá-las, modificar sua altura frequencial em oitavas! Assim, podemos apreciá-las um pouquinho.

Paralelamente, consideremos a posibilidade de encontrarmos meios semelhantes para o que seria uma "apreciação" dessa alegria quase impossível de ser sentida.

Dessa forma, seria possível reduzir as frequências da angústia, em prol de ciclos mais estáveis, menos trágicos! Quem sabe teríamos então momentos mais belos! Ainda que paradoxalmente "artificiais"... Apesar do fato de o ser humano possuir em seu íntimo, concomitantemente, artificialismos e autenticidades multiplas, inconstantes.

Um grande abraço musical,