a surdez de beethoven, progressiva, representa, neste homem de espírito, a progressiva liberação do gesto. "não" e "redenção" rimam e aliteram entre si porque são dissonantes, inoportunos com o caráter impeditivo das negativas. beethoven faz a experiência de ser anacrônico, de não pertencer a tempo nenhum, experiência da privação. mas o que é original, e originário, na forma como a privação é experimentada, assimilada e efetivada por beethoven é que ela é provedora, criativa. (heidegger: "[diante do abismo] caímos para o alto"; joão cabral de melo neto: "cultivar o deserto/ como um pomar às avessas"; robervaldo linhares: "sou rio fluente/ rindo da dor".) beethoven, o homem que fez do não a matéria-prima do fim da vida. beethoven que não evitou, mas amou seu não, levou-o às últimas consequências (outra vez: amor fati.), beethoven cuja arte não recalca, mas que também não sai do círculo, porque o faz ser aquilo que ele é, beethoven que se pôs diante do abismo, que foi até as profundezas sem no entanto se afogar. beethoven, o homem que encontra, no abismo, o sol.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
beethoven [1]: os nãos solares
Postado por cazarim de beauvoir às 10:25
Marcadores: ampliação da forma, do silêncio, improvisações
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1 comentários:
bonito pra caramba isso.
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